Leitura dos gastos da água na Costa de Dentro

Na mão direita Vilmar carrega uma prancheta e uma caneta. Anexadas à prancheta estão algumas folhas que carregam o registro dos gastos de água de 196 residências da Costa de Dentro. Nos encontramos às 14 horas em frente ao Conselho Comunitário, no fim do mês de novembro de 2021, período em que o morador da Costa sai às ruas para anotar os metros cúbicos de água utilizados em cada residência.  

Com uma câmera Gopro em mãos, vou seguindo e observando o processo das anotações feitas por Vilmar. Primeiro ele identifica onde está o hidrômetro da casa. Pode estar antes mesmo de chegar no muro da casa, na calçada, ao lado do portão. Como também estar afastado do portão, no alto, no chão, entre um buraco feito no muro. Essas localizações pedem de seu corpo diferentes posições e inclinações, tanto para alcançar o relógio como para anotar os gastos.  

Depois que encontra o objeto de medição, ele limpa o visor do hidrômetro ou retira a proteção daqueles que possuem, para então enxergar através de seus óculos os cinco dígitos que apontam os gastos de água. Alguns estão sob a vegetação que insiste em crescer, fazendo com que Vilmar precise capinar com as mãos. Nem todos são de fácil acesso, ou estão perto do portão. Nesses casos é necessário abrir os portões e entrar nos quintais.

Ao caminhar com Vilmar, ouço e gravo os sons daquele cotidiano. Televisões ligadas, conversas, crianças brincando, latidos dos cachorros, carros e motos passando na rua que corta a comunidade, todos compondo os sons daquele sábado a tarde. 

Ao descobrir esses diferentes cenários e os deslocamentos realizados por Vilmar para alcançar esses números, vou aos poucos mudando de posição. Se antes eu o seguia, gravando seus passos de casa em casa, agora eu antecipo seus movimentos posicionando a câmera aonde quer que os relógios de medição estejam. Começa então a captação de imagens de cima para baixo, do aquífero para Vilmar, a partir do encanamento para o morador que faz os registros na prancheta. 

ANAND, Nikhil. 2017. Hydraulic City: water and infrastructures of citizenship in Mumbai. Durham: Duke University Press. 

DEVOS, Rafael; VEDANA, Viviane. Movimento, câmera, percepção: não necessariamente o filme etnográfico sensorial. In: Arte, som e etnografia. Florianópolis, SC. Editora UFSC, 2021.

FLORIANÓPOLIS. Prefeitura Municipal de Florianópolis. Secretaria Municipal de Habitação e Saneamento (org.). PLANO MUNICIPAL INTEGRADO DE SANEAMENTO BÁSICO. 2010. Disponível em: http://www.pmf.sc.gov.br/entidades/infraestrutura/index.php?cms=plano+integrado+de+saneamento+basico. Acesso em 10 de jan 2022.

FLORIANÓPOLIS. Prefeitura Municipal de Florianópolis. Secretaria Municipal de Habitação e Saneamento (org.). PLANO MUNICIPAL INTEGRADO DE SANEAMENTO BÁSICO. 2021. Disponível em: https://www.pmf.sc.gov.br/entidades/saneamento/index.php?cms=revisao+pmisb+2021&menu=7&submenuid=2410. Acesso em 10 de jan 2022.

FLORIANÓPOLIS. Prefeitura Municipal de Florianópolis. Secretaria Municipal de Habitação e Saneamento (org.). Plenária Final da 2ª Conferência Municipal de Saneamento Básico de Florianópolis 2018. http://www.pmf.sc.gov.br/sites/2cmsb/index.php?cms=plenaria+final+++resultados&menu=0. Acesso em 18 de nov 2021.

Teixeira, Carla e Quintela, Maria Manuel. Antropologia e água: perspectivas plurais, in: Dossiê antropologia e água (2011).