Nas ruas úmidas do Morro da Caixa

O Morro da Caixa está localizado na região central de Florianópolis. A comunidade tem cerca de 10 mil habitantes, sendo a maior e mais populosa das 16 comunidades localizadas no Maciço do Morro da Cruz.

Uma grande parte da população negra e pobre da capital do estado catarinense reside neste local.

O território é rico em nascentes. Os pequenos córregos presentes na comunidade contribuem para deixar algumas ruas frequentemente molhadas. Caminhando pelo Morro da Caixa é possível encontrar ruas, vielas, escadarias e quintais com rastros de humidade e caminhos de água que escorrem morro abaixo.

Também são comuns os vazamentos de canos que levam água e despejam esgoto num grande córrego que corta a comunidade.

Fonte: Anjos e membros do projeto Comunitáreas (2022).

É no Morro da Caixa que nasce o rio da Bulha, corpo d’água canalizado em 1920. Anos antes a primeira grande obra de saneamento da cidade foi realizada no Morro da Caixa: em 1910 o governo do estado inaugurou o primeiro reservatório de água na cidade. Esta infraestrutura proporcionou que as águas captadas no leste da ilha chegassem à população central de Florianópolis. No entanto, a população do Morro da Caixa só pôde ter acesso à água encanada em 1980.

Até a década de 1980 os moradores coletavam água de poços feitos por suas famílias, de nascentes de água ou faziam filas pela manhã para encher baldes e panelas em uma torneira que saía do reservatório construído em 1910. O acesso a água encanada foi alcançado após muitos protestos do Conselho Comunitário do Morro da Caixa.

Ao caminhar pelo Morro da Caixa é possível descrever uma paisagem marcada pela urbanização, onde habitam canos, escadas de concreto, pessoas, água, nascentes e vegetação. Assim como é possível observar algumas dificuldades para “fazer a água circular” (Pierobon, 2021) dos canos para as casas das pessoas. 

Fonte: Anjos e membros do projeto Comunitáreas (2022).

Referências

ANAND, Nikhil. 2017. Hydraulic City: water and infrastructures of citizenship in Mumbai. Durham: Duke University Press. 

ANAND, Nikhil. Water Crisis. 2018. Disponível em: https://www.ijurr.org/spotlight-on/parched-cities-parched-citizens/water-crisis/. Acesso em: 28 jun. 2022.

BALLESTERO, Andrea. The Anthropology of Water. Annual Review Of Anthropology, [S.L.], v. 48, n. 1, p. 405-421, 21 out. 2019. Annual Reviews. 

BALLESTERO, Andrea. A Future History of Water. Durham, Nc: Duke University Press, 2019. 248 p.

DEVOS, Rafael Victorino. Porto Alegre sob(re) as águas: memória ambiental em tempos de

Antropoceno. In: Tempo e memória ambiental : etnografia da duração das paisagens citadinas. Organização Ana Luiza Carvalho da Rocha, Cornelia Eckert. Brasília, DF : ABA Publicações, 2021.

GUTTERRES, Anelise dos Santos. A resiliência enquanto experiência de dignidade: antropologia das práticas políticas em um cotidiano de lutas e contestações junto a moradoras ameaçadas de remoção nas cidades sede da copa do mundo 2014. Tese (Doutorado) – Curso de Antropologia Social, Ppgas/Ufrgs, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2014.

MATHEWS, Andrew. Ghostly forms and forest histories In: Arts of Living on a Damaged Planet. University of Minnesota Press, 2017. 

MATHEWS, Andrew. 2018. Landscapes and throughscapes in italianforest worlds: Thinking Dramatically about the Anthropocene. Cultural anthropology, Vol. 33, Issue 3, pp. 386–414.

MATHEWS, Andrew. 2020. Anthropology and the Anthropocene: Criticisms, Experiments, and Collaborations. Annual Review of Anthropology.  

MILLINGTON, Nate. 2018. Producing water scarcity in São Paulo, Brazil: The 2014-2015 water crisis and the binding politics of infrastructure. Political Geography. 65:26-34.

PIEROBON, Camila. Fazer a água circular: tempo e rotina na batalha pela habitação. Mana, [S.L.], v. 27, n. 2, p. 1-17, set. 2021. FapUNIFESP (SciELO).

QUINTSLR, Suyá. A (re)produção da desigualdade ambiental na metrópole: conflito pela água, “crise hídrica” e macrossistema de abastecimento no Rio de Janeiro. Tese de Doutorado, IPPUR/UFRJ, 2018.

RAMOS, Átila. O Saneamento Em Dois Tempos Destêrro e Florianópolis. Editora: Art Graf, 1983.

RAMOS, Átila. Memória do Saneamento Desterrense. Editora: Independente, 1986.

STRANG, Veronica. The Meaning of Water. Oxford: Routledge, 2004. 284 p.

VAILATI, Alex. D’ANDREA, Anthony. Antropologia da Infraestrutura no Brasil: Desafios teóricos e metodológicos em contextos emergentes. Revista Anthropológicas. Ano 24, 31(2): 3-27, 2020.