No dia 31 de março realizamos uma visita a Estação de Tratamento de Água da Lagoa do Peri, que é um grande prédio acoplado de uma estrutura de maquinaria metálica. Apesar da arquitetura de aparência antiga o prédio tem 20 anos, foi feito com intenção de não destoar do resto do parque. Na ocasião, a Operadora de ETA da CASAN Grazielli Cristine de Oliveira nos atendeu na visita, explicou como funciona esse trabalhoso processo de “fazer água”. Como a Profa. Viviane Vedana pontuou ao Grazille explicar como estão fazendo testes para buscar possibilidades de aproveitar ainda mais água da desidratação do lodo que sobra desse “fazer água”: “Tem que pensar em cada detalhe na verdade.” Apesar de muitos dos processos e testes serem automatizados realizados pelo sistema, a Estação não funcionaria sem o trabalho dos operadores.
[Viviane Vedana] Esse equipamento todo não substitui o trabalho que você tem que fazer no final das contas.
[Grazielli Cristine de Oliveira ] Sim, é um sistema automatizado que necessita de supervisão. Eu me lembro que quando eles começaram a automatizar, tinha alguns operadores antigos que pensavam ” ah, vamos perder os trabalhos, vão controlar tudo de lá”. Impossível controlar tudo de “lá”, porque a gente que está aqui consegue perceber. As vezes até o cheiro, pode sentir um pouco de cheiro de cloro, vai ali em baixo, deu um vazamento e não acusou aqui ainda, mas daqui a pouco vai acusar.
Em entrevista com a Grazielli Cristine de Oliveira, se tornou evidente como é essencial o trabalho dos Operadores para o funcionamento da estação. O tratamento da água envolve diversas etapas, realizadas tanto de forma automatizada pelo sistema e máquinas e como também pelos operadores, sendo que várias de suas funções precisam ser realizadas periodicamente, pois a estação funciona 24 horas. Por conta disso, existe uma escala de turnos. Assim, a cada 12 horas, um diferente Operador irá realizá-las, tendo o suporte de seus supervisores. É trabalho do operador realizar a análise dos dados do sistema e das condições do maquinário e dos processos de tratamento para garantir a qualidade da água, pois as condições da “água bruta” variam e assim alteram o tratamento que irá receber.
[GCO] Ficamos acompanhando aqui o gráfico, percebendo o que acontece. Nós mandamos a água pra rua e aí abastece a população. E o excedente vai subir o nível do Morro das Pedras. Então, quando eu mexo aqui na vazão, todas as casas estão abastecidas, não tem falta d’água. (quando Grazielle se refere a “aqui” se refere a sala de testes e monitoramento, em que atualiza dados de seus testes e verifica aqueles feitos pelo sistema no computador). Então, quando como pode acontecer no verão, de zerar o reservatório do Morro das Pedras, nós sabemos que as pessoas vão começar a ficar sem água. Porque então os poços estão ligados, a estação tá ligada, está vindo água de lá e acontece de faltar água. Normalmente entre Natal e Ano novo.
[VV] Mas duplica a população, não é?
[Priscila Oliveira dos Anjos] Triplica.
[GCO] Sim, daí é direto, o tratamento, tanto aqui quanto lá a gente fica correndo sempre para “fazer água”. E depois, quando vemos o trabalho que dá e o custo que é tratar água, a gente anda na rua e olha a pessoa com a água tratada lá, lavando a calçada, daí dá um nervoso. E a pessoa diz “Mas eu pago por ela.”. Mas não consegue entender que é água, é finita, pode acabar. E não consegue entender o trabalho que está ali. Tudo o que aconteceu para ser tratada aquela água. E é por isso que eu acho muito legal essa questão das visitas que tem na estação, com escolas, principalmente os pequenos assim, sabe? Para ter essa ideia olha o quanto trabalho dá para tratar a água, quanto custo que é, dos produtos químicos, para manter as pessoas aqui. A estrutura toda, a energia também porque é a água e a energia que está sendo usada. E aí as pessoas, para terem um consumo consciente, a importância disso .
Um resumo das etapas de tratamento que conhecemos: Depois de entrar da Lagoa do Peri pelo gradeamento, a água segue por gravidade para a Estação de Recalque da Água Bruta ou ERAB, onde é bombeada por canos subterrâneos para cima, até a estrutura onde segue para as etapas de tratamento. Ela então recebe a dosagem do PAC, um coagulante, que irá flotar a água gerando flocos em sua superfície que serão retidos por pás. Em seguida segue ao tanque que lodo, onde microbolhas irão elevar os resíduos sólidos da água para a superfície que será removido por pás. Dali a água vai para os tanques de filtragem, passando pelo meio filtrante e finalmente será tratada com produtos químicos, que por ordem seriam o cloro, o flúor e depois o cálcio, para então ser distribuída para população.
[Rafael Devos] É legal se falar que vocês fazem água. Porque se acha que a água “esta aí” apenas, mas tem que “fazer a água”.
[GCO] É, com relação ao tratamento. Pois a água “está aí”, mas ela não é cem por cento potável. Não se pode ir ali e ficar tomando aquela água (não tratada), pode causar algum problema, alguma doença. Mas a gente trata a água assim, “Ah tô fazendo a água”. Mas é engraçado assim, mas a gente não tem como não criar essa consciência, a gente já tem naturalmente, mas depois a gente trabalha assim e pensa ” Nossa esse trabalhão todo”. E a responsabilidade de dosar o produto químico de não dosar mais, não dosar a menos para a pessoa ir lá e jogar a água fora né? Poderia ter um controle maior, algum incentivo para a população fazer o reaproveitamento da água também.