Um manancial em meio ao Centro de Florianópolis

Autoras: Luana Silva Ferraz e Arielle Caroline de Souza Oliveira

Entrada principal do Colégio Catarinense

Na manhã do dia 19 de outubro de 2022 fomos recebidos por José Ilton, supervisor dos serviços gerais no Colégio Catarinense – uma instituição educacional com histórico jesuíta fundada em 1905. Localizado na Rua Esteves Júnior, 711, no Centro de Florianópolis, é uma edificação secular que passou por muitas reformas e ampliações ao longo dos anos. Contudo, ainda mantém uma atividade já considerada histórica dentro do colégio: captar e utilizar a água subterrânea de um poço em meio ao centro de Florianópolis. 

Durante as décadas de 1930 e 1940 eram os próprios jesuítas da instituição que faziam o trabalho de captar a água do lençol freático. Naquele momento, um dos motivos da captação era a constante falta de água com que sofriam. Hoje, existe um sistema que atende à escola, supervisionado pela Vigilância Sanitária constantemente. O Sr. Ilton mostrou-nos documentos preservados desde a década de 80 referentes à essa instalação. Ilton também adiciona que os moradores próximos, quando eventualmente passaram por desabastecimento em verões passados, já foram ao colégio para pegar água e, assim, suprir suas necessidades.

Apesar de possuírem também o sistema de água da Casan, o sistema do Colégio Catarinense atende completamente às demandas da escola: os atuais 1850 alunos e 320 funcionários que circulam diariamente. Para além do volume do consumo, a água captada do poço também é utilizada pela sua qualidade; segundo Ilton, não só os alunos a preferem por conta do sabor, como também é considerada a ideal para as cerimônias religiosas realizadas na igreja da escola; “a Igreja até 2005, lá na frente era direto (a água) da Casan. O padre sempre pedia: ‘coloca a nossa água lá’. Aí com a reforma que eu fiz, consegui fazer a ligação”.

Existe também uma preocupação com a sustentabilidade e o consumo de água por parte do Colégio. Isso se materializa na coleta de água da chuva, que é utilizada, por exemplo, para regar o campo de futebol que a escola possui e para as descargas dos vasos sanitários. 

Campo de futebol do Colégio Catarinense

Sobre os equipamentos que compõem esse sistema, Ilton coloca que tudo começa pela captação feita por uma bomba diretamente do lençol freático. Este poço possui cerca de 100 metros: a escola se situa a 70 m do nível do mar, e os demais 30 m acessam o subsolo. Assim que essa água coletada passa por um filtro, é nela adicionado flúor e cloro nas medidas solicitadas pela Vigilância Sanitária.

Poço do colégio
Sistema de controle de dosagem de cloro e flúor.

Já tratada, a água é armazenada em quatro cisternas: duas maiores de 60.000 litros e outras duas de 20.000 L. A maior parte da distribuição ocorre por gravidade. Contudo, com a expansão das instalações do colégio, eventualmente bombas tiveram que ser instaladas para completar o acesso em todos os prédios, o que demonstra não só a adaptação desse sistema ao longo do tempo, mas também a preferência e a vontade de que essa água seja consumida por toda a escola.

Embora a escola detenha controle sobre o sistema, ela não atua exclusivamente na garantia da qualidade da água. Conforme relatado em outros casos abordados no projeto (disponíveis em nosso site), a Vigilância Sanitária é responsável por estabelecer as normativas que regulamentam o referido sistema. Diariamente, os funcionários da escola monitoram os parâmetros de tratamento em nove pontos distintos, enquanto o órgão responsável realiza coleta mensal de amostras de água para análise em laboratório.

Confira abaixo o vídeo produzido sobre nossa visita:

O Colégio Catarinense, ao longo dos últimos 40 anos, mantém e expande um sistema que possui raízes em captações de água feitas há um século. Para tal, conta com um manancial abundante que transpassa o tempo e se mistura com a própria memória do colégio. As histórias das reformas na estrutura do educandário fazem também alusão à história desse sistema: quando houve necessidade de expandir a escola, consequentemente teve-se que expandir o sistema a fim de abarcar os novos espaços criados. 

Nossa visita foi também muito importante para refletir o quão surpreendente é que o educandário tenha toda a demanda de água atendida por esse manancial. Mesmo estando em uma região urbanizada, em que à princípio não imaginaríamos uma quantidade substancial de água, o poço consegue abastecer, sem adversidades, toda a estrutura do Colégio Catarinense. A água, para a escola, não é apenas um recurso essencial, mas também se mostra importante de diversas maneiras, desde cerimônias religiosas à práticas diárias. Para nós, é evidente como a água tornou-se um elemento importante na vida cotidiana e na cultura local, não apenas apreciada pela sua qualidade e sabor, mas pela conexão que atravessa a história e tradição da comunidade escolar.